terça-feira, 12 de abril de 2011

Um dos símbolos máximos da sofisticação e do bom gosto em moda durante décadas

Yves Henri Donat Mathieu Saint Laurent nasceu em Orã, na Argélia, no dia 1º de agosto de 1936. Sua família, de origem alsaciana, havia deixado a França em 1870.
Sempre muito interessado em artes, especialmente pelo teatro, não demorou para entrar no mundo da moda. Chegou em Paris em 1954 e, logo passou a frequentar a École de la Chambre Syndicate de la Haute Couture. Pouco tempo depois, ganhou um concurso internacional de moda com um vestido de coquetel, o que impressionou não só o então editor da revista Vogue, Michel de Brunhoff, mas também o já célebre Christian Dior, que logo o contratou como assistente.

A morte de Dior, no auge de sua carreira, em 1957, acabou transformando o jovem Saint Laurent no novo estilista da maison. Em sua primeira coleção para a grife Christian Dior, lançada em 30 de janeiro de 1958, apresentou os vestidos trapézio, de ombros estreitos e saia evasê - um grande sucesso na época. Com isso, ganhou o prêmio Neiman Marcus e o apelido de “Christian 2, o jovem triste”.
Na coleção de 1960 não agradou muito com seus blusões de couro preto sobre blusas de gola rolê. Mais tarde, o look se tornaria sucesso nas mãos de outros estilistas com o nome de “beatnik chic”.
Em setembro do mesmo ano, Saint Laurent foi chamado para servir na guerra da Argélia e acabou sendo substituído na maison Dior por Marc Bohan.
Em 1961, decidiu abrir sua própria maison com a ajuda de Pierre Bergé, seu amigo e companheiro. Seu primeiro desfile com a marca Yves Saint Laurent aconteceu em 29 de janeiro de 1962 e, a partir daí, a sigla YSL se tornaria sinônimo de elegância e vendas, alavancadas por uma série de licenças da marca, como meias, lenços, chapéus, bolsas, bijuterias, cintos, óculos e perfumes distribuídos em diversos países.
Em 1965, uniu moda e arte ao criar os vestidos tubinho inspirados nos trabalhos do holandês Piet Mondrian (1872-1944), artista plástico fundador do neoplasticismo (que usa um vocabulário restrito às verticais e horizontais e às cores puras). O vestido se tornaria um ícone da moda.
Outros artistas também o inspiraram em suas criações, como Pablo Picasso, Georges Braque, Andy Warhol, Velázquez e Delacroix.
Em 1966, Saint Laurent abriu a sua primeira butique de prêt-à-porter, a YSL Rive Gauche (que ficava exatamente do lado esquerdo do Sena) na rue de Tournon, em Saint-Germain-des-Près. Ele foi o primeiro costureiro parisiense de alta-costura a abrir uma butique de prêt-à-porter de luxo.
Acima de tudo, Saint Laurent sempre foi um inovador, até mesmo um revolucionário da moda, sempre buscando novas formas e atitudes para vestir as mulheres. Ainda em 1966, na coleção de verão de alta-costura, criou o smoking feminino, marca registrada do estilista. Nas palavras de Pierre Bergé, “Chanel libertou as mulheres e Saint Laurent lhes deu o poder”, representado não só no smoking, mas também em outros clássicos, como os terninhos com pantalona. Foi ele quem transformou o blazer, o casaquinho de marinheiro e o vestido-camisa em ingredientes clássicos do guarda-roupa feminino.
Em 1968, apresentou modelos surpreendentes como a saharienne (jaqueta tipo safári) e as blusas transparentes. No ano seguinte, abriu a butique Saint Laurent Rive Gauche para homens, em Paris.
Em 1971, a “Coleção 40”, de verão, mostrou vestidos estilo anos 40, com as costas nuas (um escândalo e um enorme sucesso de vendas) e Saint Laurent surpreendeu ao posar nu para o fotógrafo Jeanloup Sieff para o lançamento de seu perfume masculino.
Apaixonado pelo teatro, desenhou cenários e roupas para espetáculos de Edmond Rostand, Marguerite Duras ou Jean Cocteau.
No cinema, vestiu atrizes como Claudia Cardinale e principalmente Catherine Deneuve, em filmes como “A Bela da Tarde” (1966) de Luis Buñuel e “A Sereia do Mississipi” (1969) de François Truffaut. Deneuve, que foi a madrinha da primeira butique Rive Gauche de Saint Laurent, foi uma de suas grandes amigas e inspiradoras, sempre presente em todos os seus desfiles.
Em 1982, o estilista recebeu o prêmio internacional do CFDA (Council of Fashion Designers of America) e, em 1983, comemorou 25 anos de criação com uma exposição no Metropolitan Museum of Art de Nova York, sob a curadoria da lendária editora da Vogue, Diana Vreeland. No mesmo ano, lançou o perfume “Paris”, outro sucesso de vendas.
Em 1985, foi condecorado pelo então presidente francês François Miterrand com a legião de honra e ganhou o Oscar da Moda. Em 1986, foi realizada uma exposição inédita no Louvre, em Paris, com suas criações. Era a primeira vez que um costureiro expunha seus trabalhos no museu.
Em 1986, Pierre Bergé convenceu Saint Laurent a vender o setor de confecções da YSL ao grupo têxtil francês Mendés e usar o dinheiro para comprar o grupo de cosméticos Charles of the Ritz, que possuía os direitos de licenciamento da bem sucedida linha de perfumes do estilista.
Já em 1993, vendeu a grife para o grupo estatal Sanofi Beauté, braço farmacêutico do grupo de petróleo Elf-Aquitaine, o que chegou até a causar uma certa polêmica na época, por causa da suposta ajuda do presidente Miterrand, que era amigo de Pierre Bergé, nas negociações.
Em 1998, ganhou um desfile-retrospectiva em pleno campo de futebol, antes da final da Copa do Mundo da França. Além disso, o guarda-roupa da Copa, que contava com 4.200 uniformes, 19 mil peças e dez mil acessórios, foi assinado pelo estilista e encomendado pessoalmente por Michel Platini, que era o presidente do comitê organizador da Copa.
Em 1999, a marca, incluindo o prêt-à-porter, perfumes e demais artigos, foi comprada por valores que teriam chegado a US$ 1 bilhão, pelo empresário francês François Pinault, do grupo Pinault-Printemps-Redoute, que detém a italiana Gucci. Com isso, a partir de outubro de 2000, após a demissão de Alber Elbaz [o estilista que assinava a linha prêt-à-porter, escolhido por Saint Laurent] em fevereiro, a linha Rive Gauche (prêt-à-porter), passou a ser criada pelo texano Tom Ford, também criador da Gucci. Por contrato, Saint Laurent deveria ficar com duas coleções de alta-costura por ano até 2006.
Um sinal de seu descontentamento se deu em janeiro de 2001, quando Saint Laurent (que nunca havia assistido a nenhum outro desfile) compareceu ao de Hedi Slimane, seu ex-diretor da linha masculina que começava a trabalhar para a Dior, propriedade do grupo concorrente LVMH, ao invés de assistir ao desfile de Tom Ford, que fazia uma espécie de homenagem ao estilista.
No dia 7 de janeiro de 2002, Yves Saint Laurent convocou uma coletiva de imprensa para anunciar que estava se despedindo do mundo da moda. “Escolhi dizer hoje adeus a esta profissão que eu tanto amei.” Disse também que seu sentimento era de desgosto por uma indústria que se rege pelo comércio em detrimento da arte.
Em 22 de janeiro, no Centre Georges Pompidou, em Paris, aconteceu o último desfile de alta-costura de Yves Saint Laurent. Foi uma grande retrospectiva das suas criações em uma hora e meia em que um exército de modelos desfilou as criações clássicas da marca, como a saharienne e o famoso smoking, entre blusas transparentes, vestidos Mondrian e Pop Art, além dos eternos terninhos andróginos. No encerramento, além das 60 modelos vestidas com o “le smoking”, Catherine Deneuve emocionou os convidados ao cantar para seu amigo de tantos anos.
Era o fim de uma era de luxo, elegância e glamour na alta-costura, a era YSL.
A exposição que recentemente ganhou no Rio de Janeiro, no Espaço Cultural Banco do Brasil, teve como tema “viagens extraordinárias”, que ganha esse título, por suas criações e inspirações em países diversos e distantes, mais com um detalhe: sem nunca ter saído de sua sala em Paris. Essa exposição foi vista na França em 2004. Para o Brasil, peças específicas inspiradas no Rio e em Carmem Miranda, foram adicionadas.

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